Futuro do trabalho: você está preparado para os novos modelos de contratação e das jornadas de trabalho?
Por Dalton Morishita
Antecipar e prever o futuro é algo praticamente impossível de se fazer. Mas, isso não quer dizer que não dê para observarmos mudanças no presente que nos deem diretrizes e sinais para o que iremos viver nos próximos anos. Nesse sentido, podemos destacar algumas mudanças que estão acontecendo no mercado de trabalho e na maneira como elas certamente irão influenciar o futuro das formas de contratação e das jornadas de trabalho. Muito impulsionada pelas demandas e desejos da nova geração, os modelos de trabalho e contratação estão se transformando a passos largos.
Diferentemente das gerações passadas, os jovens de hoje desejam construir a carreira para muito além da estabilidade e longevidade no emprego. A liberdade, o propósito, a criatividade, o envolvimento e engajamento com a empresa são alguns dos anseios dessas novas gerações em relação a suas carreiras. Outra grande força que têm influenciado essas relações no Brasil é a busca por tornar as empresas e as pessoas mais produtivas.
Dito isto, apresentarei a seguir os principais modelos de trabalho vigentes atualmente e quais são os principais benefícios de cada modalidade:
Regime CLT: é o modelo de contratação mais antigo no Brasil. Nele, são incluídas as normas para a relação entre empregador e empregado e o cumprimento das leis trabalhistas. Apesar da segurança e estabilidade fornecidas por esse modelo, ela nem sempre agrada as novas gerações por se tratar de um processo muito engessado e nada flexível.
Servidor público: o sonho da geração baby boomer, como promessa de estabilidade e garantias, parece já não agradar tanto às novas gerações. O aspecto, muitas vezes, burocrático e engessado parece gerar uma comodidade em relação à atualização profissional, colocando muitos servidores em uma zona de conforto. Propósito, criatividade, meritocracia e novas perspectivas dificilmente são incçuídas nos discursos dos concursados.
Home-office: com o advento da tecnologia e, inclusive, das informações na nuvem, o trabalho pôde se tornar remoto e inaugurou-se uma notável crescente de ‘nômades digitais’- profissionais que aproveitam a tecnologia para realizar suas tarefas de qualquer lugar do mundo.. Essa modalidade confere mais autonomia e flexibilidade ao trabalhador. Para os profissionais que são disciplinados, essa é também uma maneira de melhorar a produtividade, já que não se perde tempo com deslocamento ou com interrupções de colegas. Em alguns casos, o colaborador só vai para a empresa em momentos pontuais. Em outros, intercala alguns dias em casa e outros na empresa.
Meio período: muito comum fora do Brasil, esse é um modelo que tende a ganhar mais relevância com a reforma trabalhista. Consiste em uma carga horária semanal reduzida, com turnos médios de seis horas diárias. Embora a remuneração seja menor, essa opção é bem interessante para quem precisa de mais tempo para a vida pessoal, como muitas vezes é o caso das mães ou pais de crianças pequenas.
Trabalho por hora: nesse modelo, o colaborador é contratado para cumprir uma determinada quantidade de horas. Geralmente, fica estipulado o número de horas e, caso seja necessário mais tempo, são cobradas horas adicionais. Essa é uma maneira de regularizar os chamados “bicos”. Nessa proposta, a contratação precisa acontecer com uma antecedência de três dias. O profissional tem direitos trabalhistas, como férias, 13º salário e FGTS. Tudo proporcional às horas trabalhadas.
Trabalho por projeto: esse é um modelo cada vez mais adotado por empresas de tecnologia e comunicação. Nele, o profissional é contratado para realizar apenas um projeto, com começo, meio e fim. As metodologias ágeis são bastante utilizadas nesse sistema, garantindo as entregas em cada etapa. No Brasil, ainda vemos poucas empresas adotando essa tendência, mas no exterior é muito comum esse tipo de contratação já ser adotado até por outros segmentos e áreas.
Trabalho autônomo: a famosa contratação PJ é muito utilizada para profissionais autônomos que prestam serviço para uma ou mais empresas. Não configura vínculo empregatício, já que o contrato é feito entre duas empresas. É um modelo muito comum para contratação de consultores e de outros perfis profissionais que não precisam estar vinculados exclusivamente à empresa.
Job sharing: esse parece o modelo de contratação mais disruptivo até agora. Nele, dois executivos podem compartilhar o mesmo cargo. Cada um trabalha apenas alguns dias na semana, tendo pelo menos um encontro entre os dois profissionais ao longo da semana. A Unilever estreou a modalidade na área de RH. Duas diretoras compartilham o cargo. Enquanto uma trabalha de segundas, terças e quartas, a outra vai para o escritório de terças, quartas e quintas. Às terças e quartas são compartilhadas por ambas, assim elas conseguem dar direcionamentos para a equipe e manter a comunicação sem ruídos. A sexta é livre para ambas e o restante da equipe faz home-office nesse dia.
Já deu para perceber que a jornada de trabalho está indo muito além da tradicional segunda à sexta, das 9h às 18h. A tecnologia e as novas leis trabalhistas estão permitindo mais flexibilidade. O ideal é que empresa e colaboradores definam o formato que mais se adequa às expectativas de ambos. O que temos que tirar disso tudo é que não importa o modelo, desde que a qualidade e a produtividade sejam mantidas.
Dalton Morishita é headhunter na Trend Recruitment, graduado em administração de empresas com especialização em Business pela Australian Professional Skills Institute.