Mindset de inovação: Implemente e faça sua empresa crescer
Georgia Roncon
Há pelo menos uma década, palavras como inovação e criatividade têm dominado as rodas de conversas dos empreendedores. Afinal de contas, quem não deseja alavancar os seus negócios por meio de processos cada vez mais criativos e inovadores?
Essas características não são tão fáceis de serem encontradas no mercado. Normalmente, tanto líderes e funcionários criativos e inovadores já passaram por um longo processo de tentativa e erro. Isso tanto no campo profissional como no pessoal.
Mas como essas suas características não vêm e não podem ser criadas do nada, o líder da empresa precisa organizar uma verdadeira mudança de mentalidade na organização. Essa quebra de paradigma é conhecida como mindset de Inovação e pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso de um empreendimento.
Então, o que você acha de conhecermos um pouco mais sobre o mindset, como ele funciona e sobre como implementar um modelo de pensamento inovador para a sua empresa? Vamos juntos?
Como surgiu o termo mindset?
As primeiras aparições do termo remontam à primeira metade do século 20. Porém, foram os estudos realizados por Peter Gollwitzer que construíram os fundamentos precursores do estudo da cognição.
A atenção ao uso do mindset como ciência aplicada prosseguiu no campo da psicologia cognitiva, apesar de ter se expandido para outros campos como as Ciências Sociais e a Psicologia Positiva.
Porém, tanto o termo quanto o conceito ganharam mais força após as publicações da psicóloga Carol S. Dweck. A professora da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, prega que o nosso mindset é moldado tanto pelas experiências otimistas quanto pelas pessimistas. Ambas determinam a nossa maneira de encarar diversas situações de nossa vida e de como agir diante delas.
Carol S. denominou esses modelos de pensamento como Mentalidade Fixa e Mentalidade Progressiva ou Crescente. Vamos entender mais sobre cada uma delas logo mais abaixo.
Mentalidade Fixa
Este modelo mental prega que a mente de um indivíduo não é capaz de ser modificada. Como o próprio nome diz, ela é fixa. As pessoas que vivem por esse modelo defendem que as pessoas não podem se tornar algo diferente para aquilo que nasceram. Ou seja, as pessoas nascem criativas e inovadoras. Essas seriam características inatas, não adquiridas.
Além de terem o pensamento voltado para a inaptidão, outra característica dos pensadores fixos é que eles evitam o feedback e são alheios a críticas. Também são mais propensos a desistirem após fracassos e, com frequência, são bastante preocupados com os talentos inatos dos outros.
É fácil de ser identificado naquelas pessoas que, com frequência, reclamam que outros tiveram mais oportunidades por nascerem com determinada característica. Muito comum em funcionários de pouca produtividade.
Mentalidade Progressiva ou Crescente
Os possuidores do modelo mental crescente (ou progressista), estão mais alinhados de que características e comportamentos ligados à criatividade e inovação são adquiridos, não inatos. São pessoas mais propensas a receberem feedbacks e interpretá-los de forma mais proativa.
Aliados a isso, são extremamente preocupados em aprender com o fracasso ou com experiências ruins, o que as torna mais preocupadas com os treinos (aprendizados) diários em vez da perseguição de uma meta maior em um curto espaço de tempo.
Fazendo uma analogia com os pilotos de Fórmula 1, o pensador crescente sabe que o campeonato não é definido apenas por uma corrida, mas por várias. Sabe ainda que só pelo fato de ele realizar ou sofrer uma batida ou ter perdido uma corrida, não significa que ele é um piloto ruim.
As pessoas com esse perfil também estão mais alinhadas à valorização de perguntas e constante busca por novos conhecimentos. Perfil bastante comum em funcionários de alta produtividade.
O que é mindset de inovação?
Apesar de receberem investimentos massivos, empresas alinhadas à inovação, como Microsoft, Apple e a brasileira Nubank, descobriram que, para que a inovação aconteça, um novo modelo mental deve ser desenvolvido e internalizado.
Nas duas primeiras, esse modelo é internalizado por meio da liderança de seus fundadores e de forma praticamente orgânica. Isso é tão forte e tão notório que depois da saída de Steve Jobs e Steve Wozniak (co-fundador) da Apple, a empresa amargou o seu pior período. Apenas com o retorno de Steve em 1997, a empresa voltou a revolucionar com novos lançamentos de produtos.
Diferente dos dois casos citados, a Nubank já nasceu com um mindset voltado para a inovação como uma estratégia empresarial. E isso foi determinado desde a fundação pelos fundadores da empresa. Ou seja, a mudança partiu de cima para baixo e em seu alto escalão.
Assim, o mindset innovation ou mindset de inovação conjuga, como símbolo semântico, uma série de ações e esforços direcionados para que as organizações estejam alinhadas à inovação. Dentre esses esforços, podemos citar:
o incentivo à colaboração interna e externa;
investimento em tecnologia e pessoal qualificados;
valorização e implementação de ideias e processos inovadores;
Seguindo uma premissa semelhante, durante a fase de planejamento de sua cultura empresarial, os fundadores da Nubank puseram em um quadro branco os fundamentos que nortearam o seu desenvolvimento durante os anos seguintes. Veja alguns deles!
Valores fundamentais (Core values): ser sempre jovem; ser sempre sedento; transparência e equidade para a nossa comunidade; fazer o melhor para os consumidores e Empoderamento e responsabilidade.
Descrição vívida (Vivid description): serviços padrão ouro/premium; ser global; quebra de paradigmas do “mundo/modelo antigo”;comunidade fantástica e fanática;ser pessoal e legal e mudar o mercado.
Propósitos fundamentais (Core purposes): lutar contra a complexidade e empoderar as pessoas.
Grande e Cabeludo Objetivo Audacioso(BHAG – Big Hairy Audacious Goal): ser a empresa de serviços financeiros mais audaciosa do mundo.
Como você pode ter percebido, não houve a criação de um comitê para a inovação, não houve menção à tecnologia ou uma estratégia de inovação. Nesse quadro, a inovação está na pele. Com um projeto tão ousado, é tudo ou nada. Ou inovariam ou seria melhor nem começar. E isso começou na declaração de missão da empresa.
Mas, lendo até aqui, você pode se perguntar como identificar pessoas inovadoras e seus diferentes perfis. Sim, inovadores têm perfis diferentes e iremos falar sobre cada um deles.
Como desenvolver o mindset de inovação?
Essa é a pergunta que não quer calar. Mas sim, você pode desenvolver um mindset inovador, mesmo que ainda não possua uma empresa, ideia ou negócio. E se tiver, eles não precisam ter ambições semelhantes ao Nubank, por exemplo.
Mas, para implementar um mindset de inovação, você precisa compreender que ela é produto dos questionamentos sobre o modo como realizamos as coisas. Então, se você ou as pessoas da sua empresa não têm espaço (físico ou hierárquico) para questionar, é melhor pensar em remover essas barreiras.
Outra coisa importante é saber que processos inovadores nem sempre estão ligados à disrupção digital. Você pode inovar em processos ou na percepção que seus clientes terão de seus produtos e serviços. As tecnologias servem para dinamizar o processo inovador ou dar um novo significado àquilo que se deseja implementar.
Assim, para o desenvolvimento do mindset inovador em pequenas e médias empresas, você precisará realizar um modelo de transição e isso pode ser feito por meio de uma estratégia de inovação.
Desenvolva a estratégia de inovação
Uma estratégia de inovação é um processo pelo qual a empresa toma para si o estímulo ao desenvolvimento de ideias e processos disruptivos. Tal medida serve para evitar que as seguintes situações ocorram:
a alta direção ou os fundadores da empresa têm pouco ou nenhum conhecimento sobre como um processo de inovação se desenvolve;
a equipe ou pessoas com potencial inovador não conversam entre si por estarem separadas entre setores ou por conta de limitações hierárquicas;
a maior parte dos setores inovadores surgiu de forma orgânica, mas estão totalmente focados na solução de problemas técnicos, internos e não alinhados com as estratégias da empresa.
Assim, o desenvolvimento não só de uma estratégia, mas de um planejamento estrutural, pode oferecer um novo rumo a uma pequena, média ou grande empresa já estabelecida no mercado. E, para prosseguir na direção certa, essa organização poderá precisar da criação de um comitê especial.
Monte um comitê de inovação
Após a criação da estratégia, é possível que a expectativa de seus colaboradores já esteja elevada e os ventos da mudança já estejam sendo percebidos. Mas agora é o momento de avançar.
O próximo passo será a criação de um comitê organizacional ou comitê de inovação. Ele normalmente é composto por um grupo de profissionais cuidadosamente selecionado. O objetivo deles é o de disseminar a cultura inovadora dentro da empresa.
É totalmente válido que os membros desse comitê pertençam a diferentes setores e hierarquias. A diversidade deve ser mantida. Não há como questionar modelos sem ser heterogêneo.
Os principais objetivos dessa nova liga de profissional será o foco na ideação de novas soluções para os principais problemas e desafios da empresa, bem como na implementação para que a empresa colha resultados reais.
Além de acertos, a tolerância a erros deve ser esperada e cultivada desde que hajam resultados e fluxo de caixa para cobrir a estruturação das ideias e projetos.
Incentive a colaboração
Feito o comitê, agora é hora da ação. Ter pessoas com crenças, visões, hierarquias e percepções diferentes trabalhando juntas não é uma tarefa fácil. Algumas desejarão impor suas visões para outras — normalmente as de hierarquia menor. Mas essas últimas precisam entender que a empresa lhes oferece liberdade para propor ideias e de que elas não serão demitidas por oferecer feedback.
Aqui, a realização de encontros presenciais ou semipresenciais, meetups ou dinâmicas de grupo podem fazer a diferença. A organização deve fazer um registro das atividades e de seus resultados iniciais, parciais e finais para que se possa monitorar o processo e o progresso de aprendizagem dos membros da equipe.
A tecnologia pode ajudar. Várias empresas fazem uso de chats colaborativos, como o Slack, Discord e outros, para que o registro das discussões seja reaproveitado e acessado com maior facilidade.
Invista em tecnologia
Em um mundo competitivo e conectado com a Revolução Tecnológica 4.0, o investimento em tecnologia não é só desejado, mas esperado. Ele não necessariamente precisa ser percebido em bens tangíveis, mas também pode acontecer por meio de processos. Nós também podemos ter avanços nos investimentos em tecnologia de comunicação (chats, videoconferência, sinalização), de software (um novo CRM, aplicativo de gestão, financeiro, etc), entre outros.
Aposte em pessoas qualificadas
Se o investimento em tecnologia serve como catalisador para a implementação de ideias, o investimento em pessoal qualificado é a chave para que isso aconteça da melhor forma possível.
Pessoas qualificadas são, em sua maioria, mais orientadas a processos de sucesso que os não qualificados. E isso ajuda muito no processo de implantação da inovação. Esse perfil de funcionário (qualificado), normalmente é capaz de aliar teoria conceitual e prática de mercado. Assim, ao poder contar com pessoas mais qualificadas em seu time, as discussões e implementações de projetos evoluirão a passos largos.
Mas há algo importante. Dê atenção à contratação de pessoal. Nem sempre um currículo muito recheado é indicativo de que a pessoa é capaz de ter boas relações no trabalho, de cumprir metas, ou de liderar com eficácia. Fique atento ao CHA: características, habilidades e atitudes de seus futuros candidatos.
Modelos de educação moderna inclusive recomendam que pessoas e profissionais contem com experiências externas (viagens, hobbies, etc) para alavancar suas características laborais.
Como vimos acima, ser competitivo sem abrir mão da inovação não é tarefa fácil. É preciso muita resiliência, comprometimento e foco nos clientes e nos resultados.
Mas, como vimos ao longo deste artigo, concentre-se apenas em como começar, organize-se e faça as coisas acontecerem. A cada etapa, colha os aprendizados e comece novamente. Depois de algumas interações, os processos fluirão e você passará a colher os resultados.